emily dickinson

Uma palavra morre Pois eu digo
Quando é dita Que ela nasce
— Dir-se-ia Nesse dia.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

sobre a espera, o tempo e o infinito - I

"_ E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria o suficiente para modificar nossos roteiros.
Silêncio.
_ Mas não seria natural.
_ Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
_ Natural é encontrar. Natural é perder.
_ Linhas paralelas se encontram no infinito.
_ O infinito não acaba. O infinito é nunca.
_ Ou sempre."

(morangos mofados)



Faltavam quinze para as oito, e faltava uma resposta para a pergunta que ainda ecoava no ar que ocupava o pouco espaço entre seus corpos.
_ Eu não sei. - E é esse não saber do outro que a deixava louca, porque se ele não sabe, quem sabe? E no fim das contas ninguém realmente sabe, mas todo mundo finge saber.
_ Então eu também não sei.
_ Mas você disse...
_ Esquece o que eu disse.
_ Como esquece? Você disse qu-
_ Eu disse, e estou des-dizendo agora. Se você não sabe, eu não quero saber. Se você não ta dentro, eu quero estar fora. Eu quero querer estar fora... Tão fora quanto você.
_ Eu não disse que estou fora.
_ E não precisa, dá pra ver.
_ Mas eu não estou fora, eu estou a um passo de estar dentro.
_ Um passo hesitante, que é o mesmo que estar fora.
...
_ Um passo pode te parecer pequeno, mas pra mim, que espero, que aguardo o seu alcance, é enorme. É todo um infinito que separa o dentro e o fora, longe e o perto, o juntos e o separados.
_ Então é o fim?
_ Não! É o começo.
_ Começo do que?
_ Do fim, oras.
...
_ Estamos caminhando para o fim.
_ Ainda? Então ainda da tempo de mudar o rumo e seguir de volta para o começo?
_ Começo do fim?
_ Não, começo do começo...
_ Não.
_ Não o que?
_ Não da pra voltar pro começo do começo, porque a gente já chegou no começo do fim, e você está fora, e eu estou saindo.
E tendo dito aquilo que não queria desde que a distância entre os dois cresceu tanto quanto o cabelo dela naqueles meses, ela saiu.

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