emily dickinson

Uma palavra morre Pois eu digo
Quando é dita Que ela nasce
— Dir-se-ia Nesse dia.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

amnésia

preta grande nuvem paira sobre nós na rua
e ao darem o salto:
rumo ao suicídio no asfalto
rumo à liberdade nas folhas
as gotas de água - pequenas gotas de afeto e mágoa
salpicam seu peito em transparente
e eu transpareço todo o sentimento
ao me ver refletida em suas lentes

por favor, se lembre!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

falta um tanto ainda, eu sei

Mas o que é o tempo
se não a sucessão dos segundos
e as crianças que morrem de fome?
E o ponteiro do relógio a andar sozinho
e os cabelos que ficam mais brancos?
E a distância que se estica, estica, estica
até não alcançar mais
seu braço
no meu abraço?

domingo, 7 de outubro de 2012

felicidade - marcelo jeneci


Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz. Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis. Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser. Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar. Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz. Se chorar, chorar é vão porque os dias vão pra nunca mais. Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você. Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem. Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você. Chorar, sorrir também e dançar. Dançar na chuva quando a chuva vem. 


Me pego pensando na razão de continuar tentando escrever. Comecei com essa mania ainda cedo, quando a vida ainda poderia ser boa. Vontade de voltar: não, menina boba! Larga desse caderno e vai correr com seus amiguinhos, vai nadar com seus primos, vai brincar de boneca, de carrinho ou seja lá do que as pessoas normais brincam! Aproveita que ainda da tempo de não gostar de ler, de não inventar essas histórias na sua cabeça, de não achar que um lápis e um pedaço de papel são muito mais legais do que qualquer pessoa falsa que tem por aí. Mas nunca deu certo - nem minha viagem no tempo nem meus esforços pra escrever bem. Acho tudo vazio, falso, bobo, sentimental. Feelings are chaos. E é tudo assim, caótico e torto. Não ta dando certo, não ta funcionando pra mim. Ver minha vida exposta, meu coração espalhado pelas páginas desse blog... dói. Dói ser sozinha, dói ser amarga, dói ser triste e dói saber que tudo isso é em vão. Qual o sentido de todas essas linhas? Qual a utilidade de todas essas palavras? Nada aqui me traz conforto e nem confrontos, mas eu continuo...



(só pra constar para meus leitores imaginários que esse texto é de abril, quando eu continuava insistindo mais ou menos em escrever)

terça-feira, 6 de março de 2012

parte II, capítulo 28, página 281

De trás do barraco de Bill o rádio de alguém que voltara do trabalho tocava uma música que falava de loucura e destino, e lá estava ela com sua beleza destroçada, as veias saltadas nas mãos estreitas de adulta, a pele arrepiada nos braços brancos, as orelhas sem viço, as axilas descuidadas, lá estava ela (minha Lolita!) irremediavelmente gasta aos dezessete anos, com aquela criança que dentro de seu ventre já sonhava em ser um sujeito importante e se aposentar no ano 2020 – e fiquei olhando para ela, sabendo, tão lucidamente como sei que vou morrer um dia, que eu a amava mais do que tudo o que jamais vi ou imaginei neste mundo, ou que possa esperar em qualquer outro. Ela era apenas um traço fugaz de perfume, o eco de uma folha morta, quando comparada à ninfeta sobre a qual eu rolara outrora gemendo de prazer; um eco à beira de uma ravina acobreada, com uma floresta longínqua sob o céu lívido, folhas marrons sufocando o riacho, um derradeiro grilo nas ervas ressequidas… mas, graças a Deus, não era apenas esse eco que eu venerava. Aquilo que eu costumava acariciar entre as vinhas emaranhadas de meu coração, mon grand pêché radieux, estava reduzido à sua essência: todo o resto, o vício estéril e egoísta, fora abolido, amaldiçoado. Podem zombar de mim, ameaçar evacuar o tribunal, mas até que eu seja amordaçado e semi-asfixiado continuarei a proclamar aos brados minha pobre verdade. Insisto em que o mundo saiba o quanto amei minha Lolita, esta Lolita, pálida e poluída, carregando o filho de outro homem, mas ainda com os olhos cinzentos, os cílios cor de fuligem, os tons de castanho e amêndoa, ainda Carmencita, ainda minha! Changeons de vie, ma Carmen, allons vivre quelque part où nous ne serons jamais séparés. Ohio? Os ermos de Massachusetts? Não importa, mesmo que teus olhos desvaneçam como os de um peixe míope, mesmo que teus mamilos inchem e se rachem, mesmo que se macule e se rasgue teu jovem e adorável delta, tão delicadamente aveludado – mesmo então eu enlouqueceria de ternura à simples vista de teu rosto amado e lúrido, ao simples som da tua jovem voz rouquenha, minha Lolita.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

take me or leave me - the magic numbers


it's a funny time for me and you, and you and me. see, i've been out walking and i can't get over you, no i can't get over you. just take me or leave me alone. and it's not right, no it's not right, you say, and it's all wrong, this story's wrong. and i've been out watching. i can't get over you, no i won't get over you, just take me or leave me alone. i've been such a fool, but it will over soon, they say, and it will over soon, one day. just take me or leave me alone. see, i've been out crying, can't seem to let you go, won't get the chance to know. just take me, don't leave me alone. and when we laugh, and when we laugh we cry.


to sem paciência pra escrever aqui. to triste triste triste, tudo de novo! mas eu to cansada, não quero reescrever os arquivos desse blog mudando apenas o protagonista. eu já tive o suficiente dessas histórias de amor e dessas lágrimas de amar sozinha e dessa vida de ficar trancada no quarto ouvindo músicas sofridas no escuro me entupindo de chocolate.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

pois é - los hermanos


pois é, não deu. deixa assim como está sereno. pois é de Deus tudo aquilo que não se pode ver e ao amanhã a gente não diz, e ao coração que teima em bater, avisa que é de se entregar o viver. pois é, até onde o destino não previu, sei mas atrás vou até onde eu consegui. deixa o amanhã e a gente sorri que o coração já quer descansar. clareia minha vida, amor, no olhar.


é por não me sentir bem
por não me sentir boa
o suficiente pra você
pra ninguém
é por não ter nada
e não ser nada
por essa minha natureza
amarga


preguiça de terminar. ou começar, não sei, me parece que eu já iniciei no meio... detesto quando os sentimentos se misturam e eu não consigo colocar tudo no papel, às vezes nada colabora comigo.